POR QUE OS COMUNITÁRIOS SÃO OS QUE MAIS PARTICIPAM DAS REUNIÕES DE CONSELHOS GESTORES?
Ana Bocchini sex, 06/06/2014 - 11:36
“Quero deixar um recado aos nossos colegas conselheiros: se você está aqui é porque você acredita. Este trabalho do SISUC é importante, porque para nós não é importante ter só um palestrante, mas um cara que puxa, que ajuda, que responde quando a gente pergunta...
A gente sai daqui hoje satisfeito, sabendo realmente as coisas que são importantes, devido a estes indicadores, que trazem conhecimentos maravilhosos.
A gente quer que as pessoas acreditem... eu nunca vou deixar de acreditar!”
Nazareno, representante da Associação de Pescadores de Novo Airão no conselho gestor do Parque Estadual Rio Negro Setor Norte, Amazonas
Há um ano participo de todas as reuniões de conselhos gestores de seis unidades de conservação do Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro. De um total de 12 reuniões apenas 2 tiveram quórum “folgado”. Nas outras 10, o quórum – que geralmente precisa ser de metade das cadeiras mais 1 – foi “apertado”. Se uma ou duas pessoas não estivessem ali, a reunião não teria sido oficial e todo o esforço dos presentes teria sido em vão. Via de regra, e isso é sabido que não é um caso apenas das UCs do Baixo Rio Negro, a maior participação é sempre dos representantes comunitários, que por vezes chegam a viajar 2 ou até 3 dias para participar da reunião, deixando suas famílias, rotinas e trabalhos.
A dificuldade logística para reunir diferentes atores e setores da sociedade em um lugar só, por muitas vezes durante mais de um dia, é sabida por todos. No caso das ONGs e órgãos governamentais fala-se muito sobre a “falta de pernas” destas instituições em participar das reuniões, sempre com uma agenda muito cheia, falta de veículo para o transporte ou mesmo de recursos para o combustível.
Sim, as dificuldades são muitas. Por isso as reuniões acontecem só duas ou três vezes por ano, o que as torna ainda mais importantes. Ali os conselheiros vão poder sentar e debater os inúmeros desafios que a UC tem pela frente: desde os mais crônicos como a regularização fundiária, passando por acesso a serviços públicos para as populações locais, até aspectos mais pontuais como o conflito pelo uso de um recurso ou território, entre outros.
Em qualquer espaço democrático de discussão – desde reuniões de condomínio até nas comunidades - sabemos que as pessoas que mais participam são aquelas que mais se interessam pelo assunto e acreditam na mudança e transformação, como o Sr. Nazareno, que me inspirou nessa blogada. Mas, se as organizações que fazem parte dos conselhos gestores estão minimamente comprometidas em considerar as reuniões em seus planejamentos, o que explicaria a recorrente ausência delas nesses fóruns? Alguns possíveis motivos: 1. estas instituições não acreditam nas mudanças que eles mesmos propõem; 2. a participação nos processos de gestão destas áreas não está dentre os objetivos, missão e valores institucionais; ou 3. de fato, não têm “pernas” para participarem das reuniões.
Ainda assim continuo acreditando em processos participativos. Eles são mais demorados, muitas vezes cansativos. Uma decisão é feita com “passo de formiguinha”, com paciência. Se realmente acreditamos na gestão participativa entendemos porque uma discussão pode durar o dia inteiro ao invés de uma hora. Por isso que acreditamos que o SISUC é uma metodologia que dá voz aos povos da floresta. Com esta ferramenta os conselheiros – agora estamos falando daqueles que vão às reuniões – ganham espaço dentro da reunião para falar e decidir. Elaboram e monitoram um plano de ação construído coletivamente, com muitos momentos de reflexão e debate antes de que este plano seja realmente instituído. Um plano de ação criado desta forma tem muito mais sentido para os envolvidos.
Para fortalecer os mecanismos de mobilização dos conselheiros, o Grupo NSC desenvolveu um instrumento simples de comunicação e apoio aos conselheiros das UCs, o Boletim do SISUC. Este boletim é entregue entre cada reunião e é personalizado: direcionado ao nome do conselheiro e às questões que ele se comprometeu na última reunião. Os conselheiros que não foram na última reunião também recebem o boletim, comunicando-os os principais pontos discutidos. Para ambos, lembramos da importância de ser conselheiros e os convidamos para a próxima reunião. O objetivo do boletim é manter o conselheiro ativo em suas reflexões sobre o andamento das ações socioambientais planejadas através do SISUC no período entre as reuniões do conselho, estimular a troca de experiências entre os conselheiros e, assim, promover o aprendizado técnico e social.
Para ver alguns exemplos de boletim clique aqui!
Comentários
Participação
Enviado por Camila Pianca em seg, 09/06/2014 - 10:05Alguns conselheiros reclamam da falta de comunicação entre as reuniões de conselho e o boletim do SISUC poderá ser um instrumento de apoio importante neste período. O conselho não acaba quando a reunião termina, os conselheiros precisam refletir e agir no período entre as reuniões de conselho, assim estas reuniões serão mais produtivas inclusive.
Acredito que o boletim além de ajudar a "refrescar" a memória do conselheiro permitirá que toda comunidade envolvida com a UC também possa acompanhar as discussões, mas devemos entender que nenhum instrumento, por melhor que seja, irá funcionar sem participação e compromisso dos conselheiros!
Camila Pianca
Grupo NSC